História de Dead Space

HISTÓRIA - Terror, religião e ficção científica no espaço

Para conseguir criar um game com atmosfera tensa, a Visceral desenvolveu um enredo inspirado em filmes (Alien O Enigma do Horizonte) e games (Resident Evil Fatal Frame) clássicos, além de se inspirar em temas religiosos contemporâneos - como a cientologia - para incrementar a trama. A jogabilidade se baseia em poucos recursos, munição limitada e controles propositalmente travados, indo de encontro à proposta de tensão vendida pelo jogo.

A história da franquia começa em 2507, quando a Terra foi devastada pela exploração humana. A busca incessante por novos recursos energéticos fez com que o planeta se tornasse cada vez mais inabitável. A população diminuiu drasticamente e agora aposta em viagens espaciais para conseguir outros meios de garantir a sobrevivência.

Leia a crítica de DEAD SPACE

A principal iniciativa é feita pela Concordance Extraction Corporation (CEC), que construiu aUSG Ishimura, uma super-nave especializada em explorar e encontrar novos recursos em outros planetas da galáxia. As missões dão certo e a humanidade começa a voltar ao trilhos. A Ishimura consegue chegar a 34 novos locais e devolve a esperança aos humanos.

Os problemas começam a acontecer exatamente na 35º missão, destinada ao planeta Aegis VII. Um chamado de emergência é enviado para a CEC, que imediatamente envia a USG Kellionpara averiguar o que ocorreu com a nave e a colônia instalada no sistema. A bordo da nave de resgate está o protagonista da série, o engenheiro Isaac Clarke, que além de cumprir seu dever profissional, vai ao encontro à namorada Nicole Brennan, médica da Ishimura.

A chegada à Ishimura

No momento de atracar na Ishimura, a Kellion sofre uma forte colisão que, apesar de não ferir nenhum tripulante, a deixa estagnada. Clarke e toda a tripulação entram na Ishimura, indo diretamente para a sala de relatórios, onde possivelmente encontrarão os motivos pelo qual a nave está parada. No caminho, eles percebem que o veículo está completamente abandonado, com compartimentos destruídos, marcas de sangue nas paredes e gravações confusas espalhadas pelos decks.

Ao chegar na sala de relatórios, o engenheiro fica preso em uma parte do local e vê o restante da tripulação ser atacado por criaturas bizarras, que logo partem em sua direção. Na fuga, Clarke consegue se armar e descobre que somente duas pessoas de sua tripulação sobraram: a cientista Kendra Daniels e o coordenador de segurança Zach Hammond.

Durante a aventura do primeiro game, o jogador conhece os reais motivos, não só da invasão da Ishimura, mas também da instalação da colônia em Aegis VII. Mais do que uma missão de exploração, a ida daquela nave ao planeta é ligada a um artefato religioso chamado The Marker. Este objeto é foco da admiração dos adeptos da Unitologia, religião vigente e mais forte da Terra naquele tempo, que acredita que o artefato daria energia e conhecimento sem limites a eles. Seguidores fervorosos da seita, os comandantes da CEC enviaram uma nave a Aegis para conseguir por as mãos no Marker.

No entanto, ao invés de ajudar, o artefato se mostra uma ameaça aos que vivem próximo a ele, pois causa alucinações, infecta e revive de forma bizarra os organismos mortos. Acontece que a tripulação da Ishimura levou o Marker a bordo - a pedido do alto comando da Igreja da Unitologia e, consequentemente, da CEC - dando início a uma chacina descontrolada dentro da nave.

Ao longo da jornada, Clarke descobre todos os detalhes dessa trama e começa a procurar uma maneira de destruir o objeto. Em uma série de eventos e reviravoltas, ele percebe que Kendra Daniels é, na verdade, uma enviada do governo terrestre responsável pelo resgate do Marker - este que, por sua vez, é uma recriação de um Marker original encontrado na Terra centenas de anos antes.

De acordo com Kendra, a intenção era recriar o artefato sem que ele causasse danos aos seres humanos. No entanto, a nova versão do Marker deu errado e criou uma nova espécie, osNecromorphs, as criaturas que Clarke combate durante o game. Depois de encontrar um vídeo mostrando que sua amada Nicole não resistiu às provações e se suicidou, Clarke consegue destruir o Marker e escapa de Aegis VII em uma nave de fuga.

Dead Space 2: um novo planeta, os mesmos problemas

O sucesso do primeiro game garantiu uma sequência. Apesar de manter a base da tensão e os corredores apertados, a Visceral Games pela primeira vez deu voz à Isaac Clarke e apresentou seu rosto ao jogador logo nos primeiros minutos de jogatina - no game original só se descobria a face do engenheiro nos minutos finais. A ação era o novo elemento da série, que começaria a partir deste game a expansão de seu universo.

O enredo de Dead Space 2 começa três anos após os acontecimentos na Ishimura. Clarke acorda em uma sala médica dentro de Sprawl, uma colônia humana montada em Titã, uma das luas de Saturno. Preso por uma camisa de força o engenheiro é libertado por um sujeito chamado Franco, que minutos depois é devorado por um necromorph. Desarmado e em fuga, Clarke é contatado por uma mulher chamada Daina Le Guin, que promete ajudá-lo com suas constantes alucinações, que quase sempre envolvem Nicole, sua falecida namorada.

Quando se encontra com Daina, Clarke descobre que ela é, na verdade, mais uma seguidora da Unitologia e sua missão é capturá-lo. A cientista conta que ele se tornou peça-chave para a construção de um novo Marker e que, nesses três anos que ele passou em animação suspensa, os seguidores da Unitologia conseguiram avançar na construção de um novo artefato. De acordo com Daina, na mente de Clarke está o caminho para serem construidos novos Markers, isso tudo devido ao contato próximo que o engenheiro teve com o objeto.

Leia a crítica de DEAD SPACE 2

Um ataque à sala onde estão impede que Clarke seja capturado por Daina, que acaba sendo morta por tiros. Em seguida, ele é contatado por Nolan Stross: outro paciente internado em Sprawl para ser usado como cobaia na construção do Marker. Stross tem alucinações mais fortes do que Clarke e constantemente mostra sinais de demência. Eles se unem a Ellie Langford, uma funcionária da CEC, disposta a ajudá-los a destruir o Marker. Cada vez que eles chegam mais perto do objetivo final, as imagens de Nicole ficam vívidas e atrapalham a jornada do engenheiro.

A recém-formada equipe parte em direção ao deck do governo, onde se encontra o novo Marker. Em um acesso de loucura, Stross ataca Clarke - após arrancar um olho de Langford - para tentar matá-lo. O engenheiro não consegue controlar o colega e acaba o matando. Após isso, a dupla remanescente consegue achar o local onde está o Marker e ainda encontram uma nave de fuga, perfeita para escapar do local após destruir o artefato. Clarke coloca Ellie sozinha na nave e a despacha para o espaço, dizendo que não perderá a chance de salvá-la, já que não conseguiu fazê-lo com Nicole.

Após isso, o engenheiro vai ao Marker e enfrenta uma horda de necromorphs. Ao chegar do lado do artefato, ele começa a ter alucinações ainda mais reais com Nicole, que o chama para morrer. Em uma batalha travada dentro de sua mente, ele luta para destruir as partes do objeto que infectam seu cérebro e, ao mesmo tempo, tenta se livrar da lembrança da namorada. Ele consegue destruir o Marker e toda a estação de Sprawl. Quando está se entregando para a morte, Ellie aparece para resgatá-lo,    dentro da nave que ele mesmo a enviou. A salvo e vendo a estação espacial se destruir, Clarke tem exatamente a mesma visão de Nicole que teve no fim do primeiro game - mas dessa vez, ao invés de o jogo se encerrar, Ellie aparece no lugar da namorada e pergunta ao engenheiro se está tudo bem para em seguida o game terminar.

Histórias paralelas em novos games

Apesar de alguns críticos reprovarem a inclusão de uma maior parcela de ação em Dead Space 2, o game foi bem recebido pelo público e aumentou seu número de fãs. O crescimento desta base começou antes do segundo jogo da série, mais precisamente com alguns livros sobre a franquia e, principalmente, o lançamento de jogos que mostram as tramas paralelas à de Isaac Clarke. O estabelecimento da saga principal, fez com que a EA produzisse jogos que explicassem os eventos anteriores à chegada da Ishimura a Aegis VII, e a internação de Clarke em Sprawl - ao mesmo tempo que explicava com mais detalhes a origem do Marker e as verdadeiras intenções da Igreja da Unitologia.

Em Dead Space: Extraction (PS3 e Wii), por exemplo, o jogador acompanha um grupo de mineradores instalados em Aegis VII. A jogabilidade é toda baseada em em uma espécie de tiro sob trilhos, em que o personagem segue seu caminho de forma automática e o jogador é responsável apenas pelos tiros e combates. Por meio da aventura, é possível conhecer os motivos principais que levaram o planeta a ser infestado por necromorphs, assim como o domínio da Ishimura. Os seguidores da Unitologia revelam que, além de reconstruírem o Marker, uma das intenções da seita é achar alguém que seja imune à infecção necromorph - algo que não consegue ser concluído. O game termina momentos antes da Kellion, nave de Isaac Clarke, chegar perto da Ishimura.

Outros dois jogos mostram os acontecimentos prévios a Dead Space 2, quando Sprawl, a estação em Titã, é infestada por necromorphs. Durante Dead Space: Ignition (PSN e Xbox Live Arcade), um game de puzzles feito com gráficos inspirados em histórias em quadrinhos, a dominação necromorph na estação é explicada pelos olhos de Franco, o sujeito que liberta Clarke no início de Dead Space 2. As experiências com o engenheiro e Nolan Stross, por exemplo, são explicadas mais profundamente, assim como o maquiavelismo da Igreja da Unitologia.

Para completar o domínio das plataformas disponíveis, a EA lançou Dead Space para iOS - o sistema operacional de iPhones e iPads. O enredo do jogo se passa ao mesmo tempo queIgnition e segue os passos de uma unitologista chamada Vandal. Comandada pelos gerentes de Sprawl, Vandal é guiada até os mais obscuros locais da estação, até liberar todos os necromorphs criados pelo Marker, sem saber. Com gráficos incríveis para um celular, Dead Space fechou a principal trama da franquia, conseguindo explicar de forma coerente tudo o que ocorreu antes e depois dos dois principais games.

OUTRAS MÍDIAS - A expansão do universo em livros, filmes e quadrinhos

Para dar mais crédito e profundidade à trama da série, a EA, ao lado de outros parceiros, começou a levar Dead Space para outras mídias. A expansão ocorria ao mesmo tempo em que os primeiros jogos faziam sucesso, muitas vezes contando apenas histórias de fundo, que complementavam as intenções do governo terrestre e davam mais detalhes da criação do Marker. Apesar de alguns trabalhos serem colocados como dispensáveis para os não iniciados, alguns filmes e livros podem fazer a diferença no momento de mergulhar neste universo.

No mesmo período em que o primeiro jogo da franquia foi lançado, meados de 2008, também chegou às lojas uma história em quadrinhos homônima. As relações da história da HQ com o game são ligadas apenas pelo Marker, sem uma conexão entre personagens ou tramas diretas - tal qual foi feito na graphic novel Salvage. Dead Space: Extraction, o game de Wii e PS3, também ganhou uma HQ, que mostra mais detalhes da relação entre o engenheiro e Nicole. A história mostra que a noiva de Clarke conseguiu uma solução para a cura da infecção necromorph, mas não tem tempo nem equipamentos suficientes para desenvolver o antídoto.

A complexidade desejada pelos criadores da franquia só começou a ser vista de fato com o primeiro livro da série, que explicou a origem da Unitologia e o surgimento do Marker. Dead Space: Martyr fala sobre a vida de Michael Altman, o criador da religião vigente na franquia, e como ele encontrou o primeiro Marker - este ainda situado na Terra. Além de alterar a psique humana, o objeto era tido como uma fonte inesgotável de energia e ainda revela imagens de um possível futuro da humanidade. A sequência para este livro foi lançada no final do ano passado e se chama Dead Space: Catalyst. A premissa sobre a origem e os efeitos do Marker continuam, mas dessa vez seguindo a história dos irmãos Istvan e Jensi, que na colônia de Vinduaga, descobrem alguns mistérios por trás deste objeto.

Enquanto não há um filme, as (boas) animações compensam

Assim como fez nos livros, a EA não poupou esforços para entregar filmes interessantes para a franquia. Ainda que negocie eternamente os direitos de um longa-metragem para os cinemas, os fãs da série têm dois belos exemplares animados relacionados à Dead Space para se divertir. O primeiro deles é Downfall, que foi lançado em 2008, e mostra a exploração da equipe da Ishimura em Aegis VII. Assim como é explicado nos acontecimentos do primeiro game, parte da tripulação sabe dos perigos que cercam o Marker e outra não. A trama da animação mostra como a equipe é consumida pelos necromorphs e tenta alertar as demais naves da companhia do perigo que está naquele local. Com bons diálogos, cenas de ação bem dirigidas e uma animação de qualidade, Downfall é uma ótima introdução ao universo Dead Space.

O segundo filme animado da franquia foi Dead Space: Aftermath, lançado no mesmo período deDead Space 2. O enredo é baseado nos acontecimentos pós-Ishimura, quando Clarke deixa Aegis VII completamente destruído. A USG O'Bannon é designada para ir ao planeta verificar o que restou e seus quatro tripulantes começam a descobrir as reais intenções do governo terrestre. As experiências que são realizadas em Sprawl, também demonstradas com o engenheiro e Stross no segundo game, ganham mais detalhes, assim como a construção de novos Markers pelo universo.

DEAD SPACE 3 - O fim da trilogia

Anos depois de investir em livros, negociar filmes e fazer jogos paralelos, é chegada a hora da Eletronic Arts voltar à trama principal da sua maior série de survival horror. A polêmica inclusão de maiores camadas de ação na jogabilidade e narrativa continuam, e agora em um ambiente completamente diferente. O planeta gelado de Tau Volantis foi o cenário escolhido para o início da última aventura de Isaac Clarke nesta geração de consoles. Após a destruição de Sprawl, Clarke e Ellie Langford separam-se com a missão de procurar mais Markers espalhados pela galáxia. Uma das primeiras paradas de Clarke e sua nova equipe, formada por John Carver eEdward Norton, é o planeta de Tau Volantis, que foi infestado por necromorphs há 200 anos e atualmente está coberto de gelo - ainda assim, sinais do Marker são emitidos diretamente dali. Langford descobre também que, de alguma maneira, a invasão necromorph foi interrompida. Por esse motivo, a dupla parte para o local em busca desta solução.

Cooperação é a palavra da vez

Se no segundo game as críticas foram para a ação exagerada, agora os fãs escolheram o inédito modo cooperativo como alvo. A intensa experiência single player, segundo os desenvolvedores, ainda permanece fiel às origens do game de 2008; no entanto, agora é possível se juntar a um amigo para concluir a jornada. Isaac Clarke e John Carver são os avatares disponíveis. Outro argumento usado pela Visceral para tranquilizar os seguidores é que será possível completar toda a campanha sozinho, sem nada ser perdido. Há também a possibilidade de um amigo entrar para jogar a qualquer momento do game, sem que seja preciso reiniciar a jornada.

Dessa vez, os corredores claustrofóbicos serão menos presentes. O planeta gelado de Tau Volantis é o maior e mais amplo cenário que a série já viu e deve causar, na primeira ocasião, um estranhamento aos mais experientes. E neste ambiente, os necromorphs não serão os únicos inimigos a serem derrotados: humanos, membros de organizações desconhecidas (ou não), estão incluídos na trama como desafetos de Clarke e cia. Para combatê-los, os protagonistas agora têm a possibilidade de abaixar e dar cambalhotas para escapar de eventuais ataques.

Na parte das lutas, a adição de um sistema de customização para as armas é a maior novidade de Dead Space 3. Com itens achados pelo caminho será possível montar armas personalizadas e adequadas para cada momento do jogo. Se por um lado, isso evolui os conceitos da franquia, estas mudanças assustam os mais céticos, que queriam uma narrativa cada vez mais imersiva e com um arsenal de armas limitado - o que daria mais tensão e horror a trama. Mas a Visceral Games garante a todo custo: a alma de Dead Space está intacta.

FONTE(OMELETE)